Richard Dawkins diante de ônibus com o banner da campanha "MUITO PROVAVELMENTE NÃO EXISTE UM DEUS, ENTÃO PARE DE SE PREOCUPAR E CURTA SUA VIDA", com o objetivo de tirar os ateus, tadinhos, de seus armários pusilânimes.
Por incrível que pareça, existe tal coisa como um “ateu de armário”. Eu tenho minhas dúvidas sobre a existência desta ave rara, e explicarei porque, muito brevemente, no final do texto. Eu sei também que não cabem aqui raivinhas e impaciências, mesmo porque parece que muita gente anda preocupada com concursos de popularidades e com o que os outros pensam dos outros, mas essa coisa de “ateu de armário” é uma coisa que me revolta, pois pensar que existe isso, Nossa Senhora, meu Pai do Céu, me sobe um sangue pelas ventas que eu nem sei o que me dá vontade de fazer, Deus que me livre.
Ok, humor negro pode, né?
É claro que a expressão “de armário” vem do fraseário gay e faz referência ao cara ou guria que são gays, mas escondem isso de quase todas, senão de todas, as pessoas que conhece m nas suas vidas enclausuradas. Pois bem, é quando fazemos a comparação entre ateus e gays que o sangue acaba me subindo à cabeça.
Meu Deus.
Quando você é um moleque delicadinho, com pais violentos e preconceituosos, família ignorante, sociedade idem, professores abusivos, amigos filhasdaputa, padres pedófilos, bichas recalcadas que só se assumem em banheiros públicos e velhos sodomitas que querem se esfregar em qualquer coisa movente, quando você é uma pessoa gay crescendo no meio dessa lama existencial e mesmo assim tem coragem de “sair so armário”, como dizem, e assumir sua homossexualidade para o mundo, apesar de tudo e de todos, isso sim é um ato de grandeza, merecedora do respeito de todas as pessoas desta vil sociedade. Um ateu de armário, contrariamente, é uma coisa que me revolta, se ele existe de verdade, pois isso, pra mim, é como estar na base da pirâmide social numa sociedade de macacos. O ateu de armário é o chimpanzé que nasceu com uma perna atrofiada e fica o tempo todo servindo de saco de pancada pro macho dominante. É o macho ômega. O ateu de armário é uma violação da fibra moral humana, porque é muito mais fácil você assumir o seu ateísmo do que um gay assumir sua homossexualidade para Deus (a piada tá cansando, eu sei) e o mundo nos dias de hoje. Então não tem porque existir uma coisa como o ateu de armário.
É preciso ser muito homem para ser gay no Brasil. E no mundo. É preciso ser muito frouxo para ser um ateu de armário no Brasil. E no mundo.
Então você, ateu de armário, tem medinho de sair do seu anonimato por causa das recentes pesquisas que apontam os ateus como a categoria mais odiada da humanidade? Não seja frouxo, se você tem qualquer dúvida sobre a existência de Deus ou deuses, você já é um ateu, então aprenda a viver com isso e venha para a luz!
Você não percebe que a gente está precisando de quórum?
Enfim, acho que escrevi tudo isso apenas para chegar à conclusão de que não deve, afinal de contas, existir uma coisa como o ateu de armário, simplesmente porque a iluminação ateísta é de uma força e convicção tão grandes, que não é possível que alguém, numa situação dessas, consiga manter-se no tal do armário.
Tá bom, vamos fazer de conta que não existe esse negócio de ateu de armário. Vamos combinar que o que existe de verdade são apenas alguns medrosos em dúvida que não têm coragem de assumir esta simples, mas poderosa, constatação lógica que é a noção de que não é possível existir tal aberração como um Deus abrâmico (ou qualquer outro) na frente dos outros porque teme represálias em bares e festinhas de condomínio.
Ninguém quer ser o satanista do prédio, né?
Se você é assim, fica no armário.
Mesmo que na realidade não exista armário nenhum.
O armário é sua mente. Se você coloca Deus em xeque, não tem porque não colocar o armário também.
Tá bom?
Então é isso. Coloca o armário em xeque. Ele não existe.
Assim como Deus.
Graças a Deus.
[CATO ALBERICO RIBEIRO]