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ateus versus crentes

Heráclito, o Obscuro. (detalhe da "Escola de Atenas", de Rafael Sanzio)

Ateísmo ou não, eis a questão.

Eu sou ateu, claro, acho que isso fica mais do que óbvio em alguns dos meus textos. Mas não estou aqui no papel de evangelizador ateu. E a contradição dos termos aplicados é sempre bem vinda.

Às vezes acho muito estranha essa nova aptidão do tal “neoateísmo” de estar sempre guerreando com os crentes, que agora é um termo usado para qualquer pessoa que simplesmente crê em alguma coisa, até mesmo em Odin, se assim quiser.

Um mundo de crentes nórdicos. Aí eu ia curtir.

É claro que eu nem vou falar da aptidão natural dos teístas de guerrearem, porque ela já é mais do que conhecida.

Enfim. A guerra, infelizmente, é algo que está no centro das relações humanas. O Heráclito de Éfeso, um grego bem das antigas, disse bem. Apesar do abismo histórico, e das traduções que nunca chegam perto de entender qualquer coisa que seja, ele foi o primeiro a afirmar obscuramente a necessidade infinita dessa guerra cósmica para a formação de tudo e de todos.

Então o que o ser humano gosta mesmo é de brigar. Desculpem-me. Mas não se trata de Deus ou de fé ou de expor as falácias teístas ou da afronta às lógicas humanas.

Não.

É pura e simplesmente uma vontade absurda de pegar em armas. É pura e simplesmente essa vontade genética de esmurrar a cara do vizinho, faltando pra isso apenas que ele me dê um bom motivo; como ser ateu, por exemplo.

Porque se não fosse isso, ateu não brigava com ateu e crente com crente. Se fosse simplesmente uma questão de defender essas ideias absurdas que dominam aos homens, se fosse só isso , a coesão entre os grupos seria indestrutível, não? Mas não é.

Porque, pelo jeito, para unir, o homem precisa destruir.

E o homem é bicho de guerra mesmo.

Infelizmente.

[CATO ALBERICO RIBEIRO]

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física quântica e espiritualidade

Richard Feynman, físico americano, que disse: "se você acha que entendeu a física quântica, é porque você não entendeu a física quântica".

Está na moda, ultimamente, falar em física quântica.

Se eu sou um especialista sobre o assunto? Claro que não. Se eu entendo alguma coisa sobre o assunto? Posso dizer que sim. Acho a física quântica um campo de exploração intelectual muito interessante para escritores ou pessoas que trabalham com arte de uma maneira geral.

Na geral.

Mas, mesmo estudando muito mais física quântica do que a grande maioria das pessoas que conheço, não ouso preencher qualquer lacuna de ignorância minha com aquele infame “a física quântica explica isso”.

Isso é uma coisa que muito me enfurece.

Ela explica muitas coisas? Claro. Ela explica, por exemplo, a teoria espírita? É lógico que não. Isso é arredondamento. Aproximação. Não começarei a despejar os termos técnicos, os nomes das falácias e tals, porque essas coisas são facilmente confundidas com arrogância, então prefiro o bom e velho autoritarismo: um dogma pra matar outro. Vai por mim.

Então, não adianta também achar que o descobrimento da física quântica ou a teoria das super cordas ou qualquer uma dessas descobertas que você (um você, digamos, hipotético) lê na ridícula sessão destinada à ciência na Folha de S.Paulo redimirá os incontáveis erros que a religião cometeu e continua esquizofrenicamente a cometer. Como se a ciência agora tivesse a obrigação de provar algumas das constatações que a religião tem feito em cima de seus eternos achismos castradores. Isso não vai acontecer. Isso não precisa acontecer. O objeto da física quântica são os átomos, com seus comportamentos de donzelas volúveis que se teletransportam e pulam do futuro pro passado e de gatos enclausurados em caixas que podem estar mortos e vivos ao mesmo tempo.

Mas não os “espíritos”.

Se alguma coisa “espiritual” cruzar o processo de investigação científica, comprovando-a, se for o caso, o mérito será exclusivamente da ciência, que é muito mais útil à humanidade, apesar de sua curta existência, do que a religião em sua eterna Idade Média.

Tá na hora de largar essa Classe Média.

Quer dizer, Idade Média.

Dá na mesma.

É tudo treva mesmo.

[CATO ALBERICO RIBEIRO]

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crack & jesus

Quando você larga as drogas por uma religião você simplesmente está trocando uma droga pela outra.

Crack & Jesus.

Se Cristo aparecesse como um viciado na Cracolândia, quem acreditaria nele? Ninguém, ÓBVIO, porque está todo mundo esperando um Antonio Banderas super-heroico com os milagres escorrendo-lhe pelas pontas dos dedos e ninguém, NINGUÉM, está pronto ou mesmo disposto para baixar sua bolinha de sabe-tudo e admitir que o Cristo está ali, mesmo se o noia divino estiver mesmo ali diante do crente incrédulo abrindo o Rio Tietê com um lance do cachimbo feito com o potinho de Yakult.

Não se deve acreditar num futuro, mesmo porque ele não existe ainda. E o passado, bem, sinto lhes dizer, ele já foi, por isso que é passado. Então ou a gente está acreditando em ecos de um passado distante ou antecipando as improbabilidades dum futuro que a gente nem sabe se existirá (por isso “improbabilidades”). E, nos dois casos, estamos permitindo que essas mentiras mandem em nós. É um caso de alienação temporal. Esses “milagres” da Bíblia, por exemplo, que aconteceram em ambiente judaico-cristão, apenas têm tanta força porque eles nunca mais aconteceram (se é que aconteceram alguma vez, claro).

E continuamos à espera deste nunca acontecer.

Não existem milagres modernos e os milagres futuros estão todos relacionados com a volta desse messias super-heroi ou com um devastador apocalipse dos anjos.

São esperanças e medos.

Nada mais.

E eu comecei falando de um assunto e terminei em outro.

A culpa é do crack.

Brincadeira.

[CATO ALBERICO RIBEIRO]

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ateu, sai do armário, pelo amor de Deus

Richard Dawkins diante de ônibus com o banner da campanha "MUITO PROVAVELMENTE NÃO EXISTE UM DEUS, ENTÃO PARE DE SE PREOCUPAR E CURTA SUA VIDA", com o objetivo de tirar os ateus, tadinhos, de seus armários pusilânimes.

Por incrível que pareça, existe tal coisa como um “ateu de armário”. Eu tenho minhas dúvidas sobre a existência desta ave rara, e explicarei porque, muito brevemente, no final do texto. Eu sei também que não cabem aqui raivinhas e impaciências, mesmo porque parece que muita gente anda preocupada com concursos de popularidades e com o que os outros pensam dos outros, mas essa coisa de “ateu de armário” é uma coisa que me revolta, pois pensar que existe isso, Nossa Senhora, meu Pai do Céu, me sobe um sangue pelas ventas que eu nem sei o que me dá vontade de fazer, Deus que me livre.

Ok, humor negro pode, né?

É claro que a expressão “de armário” vem do fraseário gay e faz referência ao cara ou guria que são gays, mas escondem isso de quase todas, senão de todas, as pessoas que conhece m nas suas vidas enclausuradas. Pois bem, é quando fazemos a comparação entre ateus e gays que o sangue acaba me subindo à cabeça.

Meu Deus.

Quando você é um moleque delicadinho, com pais violentos e preconceituosos, família ignorante, sociedade idem, professores abusivos, amigos filhasdaputa, padres pedófilos, bichas recalcadas que só se assumem em banheiros públicos e velhos sodomitas que querem se esfregar em qualquer coisa movente, quando você é uma pessoa gay crescendo no meio dessa lama existencial e mesmo assim tem coragem de “sair so armário”, como dizem, e assumir sua homossexualidade para o mundo, apesar de tudo e de todos, isso sim é um ato de grandeza, merecedora do respeito de todas as pessoas desta vil sociedade. Um ateu de armário, contrariamente, é uma coisa que me revolta, se ele existe de verdade, pois isso, pra mim, é como estar na base da pirâmide social numa sociedade de macacos. O ateu de armário é o chimpanzé que nasceu com uma perna atrofiada e fica o tempo todo servindo de saco de pancada pro macho dominante. É o macho ômega. O ateu de armário é uma violação da fibra moral humana, porque é muito mais fácil você assumir o seu ateísmo do que um gay assumir sua homossexualidade para Deus (a piada tá cansando, eu sei) e o mundo nos dias de hoje. Então não tem porque existir uma coisa como o ateu de armário.

É preciso ser muito homem para ser gay no Brasil. E no mundo. É preciso ser muito frouxo para ser um ateu de armário no Brasil. E no mundo.

Então você, ateu de armário, tem medinho de sair do seu anonimato por causa das recentes pesquisas que apontam os ateus como a categoria mais odiada da humanidade? Não seja frouxo, se você tem qualquer dúvida sobre a existência de Deus ou deuses, você já é um ateu, então aprenda a viver com isso e venha para a luz!

Você não percebe que a gente está precisando de quórum?

Enfim, acho que escrevi tudo isso apenas para chegar à conclusão de que não deve, afinal de contas, existir uma coisa como o ateu de armário, simplesmente porque a iluminação ateísta é de uma força e convicção tão grandes, que não é possível que alguém, numa situação dessas, consiga manter-se no tal do armário.

Tá bom, vamos fazer de conta que não existe esse negócio de ateu de armário. Vamos combinar que o que existe de verdade são apenas alguns medrosos em dúvida que não têm coragem de assumir esta simples, mas poderosa, constatação lógica que é a noção de que não é possível existir tal aberração como um Deus abrâmico (ou qualquer outro) na frente dos outros porque teme represálias em bares e festinhas de condomínio.

Ninguém quer ser o satanista do prédio, né?

Se você é assim, fica no armário.

Mesmo que na realidade não exista armário nenhum.

O armário é sua mente. Se você coloca Deus em xeque, não tem porque não colocar o armário também.

Tá bom?

Então é isso. Coloca o armário em xeque. Ele não existe.

Assim como Deus.

Graças a Deus.

[CATO ALBERICO RIBEIRO]

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Deus é ateu.

Deus? Pra mim, assim como pro Nietzsche, é uma questão morta.

Não se trata mais de provar ou não se Deus existe. Isso foi ontem. Se realmente existisse uma figura macho patriarcal com atributos mágicos de onipotência, onisciência e oni-o-que-você-conseguir-inventar, acho que ele se mostraria por completo, não dessa maneira tendenciosa e obscura, não nesse eterno esconde-esconde, nessa eterna charada sem sentido. E então você pode me dizer que ele não se mostra porque não consegue, ou ele se mostra, todos os dias, mas eu fecho os olhos pra ele, ou qualquer uma dessas bobagens que são apenas palavras e que serão sempre argumentos contra os atributos que o colocam na posição desse Deus Todo Poderoso. Você pode me dizer qualquer coisa, mas se Deus existisse, a linguagem nunca bastaria para entendê-lo, então não daria pra provar se ele existe ou não, e isso pra mim, sendo eu este homem de ciência que sou, é o mesmo que provar sua inexistência.

Eu não sou agnóstico. Eu não sou ateu. Pra mim não faz sentido provar a inexistência de algo que nunca existiu.

Por que um Deus escondido, afinal de contas?

Porque ele é conveniente assim. Porque ele é só linguagem. Porque ele é apenas uma invenção de controle e essas coisas ficam melhores escondidas. E não adianta vir com aquela velha ladainha do tipo “ah, o meu Deus não é assim”, porque, se você é um desses, está apenas assumindo que este Deus é só uma realidade subjetiva e que cada um tem uma concepção diferente “dele” mesmo e acho que não existe melhor argumento contra a existência desta entidade do que este mesmo: um Deus subjetivo.

Trata-se de uma subjetividade divina, um constructo que nem é tão bem feito assim, haja visto que é apenas uma cópia rameira de um paizão que curte bullying. É uma história da carochinha, pra gente ficar com medo e dormir rápido.

Pra não falar em “histeria coletiva” mesmo.

Deus é o homem. E vice-versa.

Claro que o termo histeria nem é uma patologia e é mais um termo preconceituoso, como já dizia o bom Freud, e é claro também que eu só o uso pra colocar a tudo numa tabula rasa irônica e obrigar-nos a começar de novo.

De novo.

Mas sem Deus dessa vez.

Só pra ver o que acontece.

[CATO ALBERICO RIBEIRO]

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